Tem muito indie nesse mundo e o próprio fato de ter muito indie meio que depõe contra a categoria, que sempre prezou pela formação de praticamente um "bloco do eu sozinho" ouvindo as bandas mais descoladas: uma vez que a banda caía no gosto de gente demais, não era mais legal. O indie, assim como o emo, também adora dizer que não é indie, que é eclético, que não pertence a nenhuma categoria pré-idealizada, que quer ser considerado um ser individual e costumizado, mesmo que eles usem os mesmos óculos de vovó, as mesmas calças, a mesma camisa xadrez, o mesmo All Star...
Não sei quem são esses caras, mas eles são indies, tá na cara.
Gente, eu falo isso sem o mínimo de preconceito porque eu sou indie. Eu tenho All Star, camisa xadrez, até comprei um Ray-Ban que fica enorme em mim, mas tudo bem... eu só não escondo as bandas e músicas que eu gosto. Eu mando pros amigos por e-mail, faço CD, mixtape... Enfim, eu tento ser indie porque curto a música e tenho tentado desde o tempo em que era difícil ser indie. Quando digo "indie", me refiro ao fato de gostar de coisas que muitas vezes ficam fora do mainstream. Acertado isso, vamos em frente...
Ok, tem muita oferta de música ruim hoje em dia, emos, axé, pagode, funk, mas, convenhamos... com a Internet, você está livre das amarras da programação estabelecida pela MTV e pelas emissoras de rádio. Você tem um mundo de músicas novas, antigas, obscuras, lado B, versões ao vivo, acústicas, raras. Você não precisa garimpar nada em antiquários e brechós. É só jogar NOME DA BANDA + TORRENT + DOWNLOAD. Enfim, você só precisa ter bom gosto, né? Porque você também pode baixar a discografia do Asa de Águia se quiser...
Se você está lendo isso e é adolescente, deixa a tia explicar que houve um tempo em que eu demorava 1 hora pra conectar na linha discada do iG e mais outras 3 horas pra baixar uma música do Placebo e meia do David Bowie. Há 10 anos nós tínhamos direito a 1 (UMA) hora de programação rock na extinta Rádio Cidade, um oásis no meio do pop no-brainer que tocava naquela época. Se você não gostasse de Backstreet Boys e N'Sync, como eu, você ia ouvir o Cidade do Rock e ficar muito agradecido por isso. Você conseguia ver um clipe legal na MTV se ficasse esperando por algumas horas (se bem que hoje em dia é assim também). Mas hoje tem o YouTube, amizade. E isso faz TODA a diferença...
Depois do Rock in Rio, em 2001, as coisas melhoraram um pouco. A Cidade virou "a rádio rock", todo mundo começou a dizer que curtia rock e tudo foi ficando bem mais fácil, acompanhando a evolução das telecomunicações. Mas antes disso, eu penei muito para conhecer as coisas boas. Conheci Beatles porque minha mãe me levou pra ver uma sessão especial de Hard Day's Night no Odeon (o que considero uma das coisas mais legais que ela já fez). The Doors, porque um tio de uma amiga deu um CD duplo pra ela e eu resolvi malocar. Curti uma fossa amorosa ao som dele, memorável. Conheci Glam Rock porque um dia esbarrei com "Velvet Goldmine" passando no Cinemax. Outras coisas, garimpadas das milhões de horas gastas assistindo MTV. Smashing Pumpkins, Oasis, Garbage e Stone Temple Pilots vêm desde a infância...
E para baixar tudo isso, hooooooras com o risco da linha cair, pedindo pra galera de casa esperar mais um pouco pra fazer um telefonema...
Mas pelo menos eu posso dizer que a minha agenda de 99 tem foto do Kurt Cobain e dos Smashing Pumpkins em vez do Nick, Brian e... quem mais mesmo? Na de 2001 eu escrevi letras dos Foo Fighters, QOTSA e Green Day.
No fim das contas, devo admitir que era mais difícil ser indie, mas era mais barato. Lembro que (tá na agenda de 99) que eu comprei meu all-star preto por R$ 21,90 na DiSantinni (no mesmo dia em que eu comprei o primeiro cd do Garbage na Saraiva por R$ 13,90). Vai ver quanto é hoje!!! Comprei esse ano passado...
Elliot, me esfaqueia...